Graças a Karl Kraus comecei a compreender que cada indivíduo tem uma configuração lingüística própria, que o distingue de todos os demais. Compreendi que embora os homens falem uns com os outros, não se entendem; que suas palavras são golpes que ricocheteiam nas palavras dos outros; que não existe ilusão maior do que a opinião de que a língua é um meio de comunicação entre seres humanos. Fala-se com a outra pessoa, mas de uma maneira que ela não entende. Continua-se a falar, e ela entende ainda menos. Um grita, o outro grita também: a exclamação, que tem uma vida miserável na gramática, apodera-se da língua. Como bolas, as exclamações saltam para lá e para cá, chocam-se e caem pelo chão. Raramente algo que se diz consegue infiltrar-se nos outros; e, quando isso afinal acontece, é entendido às avessas.
Autore: Elias Canetti