— Kafka era um terrorista. Incentivar todas as situações terroristas, estabelecer o pânico, lançar o terror. — E a solução? — perguntou Mauro. — A solução é a conduta católica — respondeu o amanuense Belmiro. — A solução é o próprio problema, sabe como é? Não há solução. Imagino a seguinte cena: um congresso de sábios, os mais sábios do mundo, que se reuniram para resolver o problema dos problemas, o problema transcendental, oProblema, tout-court. — O problema o quê?
— Tout-court. Vá à merda.
— Ah, tout-court. Merci.
— Pois bem: estão reunidos, os sábios, a postos para começar a trabalhar, encontrar a solução do problema, e o Presidente do Congresso dá por iniciada a sessão, anunciando que vai, enfim, dizer qual é o Problema que os reuniu. Faz uma pausa, e declara solenemente: “Meus senhores! O problema é o seguinte: Não há problema!” — E daí? — Daí os sábios terem de resolver o problema da inexistência do problema. É o terror.
Autore: Fernando Sabino