Epitáfio /J.L.Borges (?)
Já somos a ausência que seremos.
O pó elementar que nos ignora,
que foi o rubro Adão, e que é agora
todos os homens, e que não veremos.
Já somos sobre a campa as duas datas
do início e do fim. O ataúde,
a obscena corrupção que nos desnude,
o pranto, e da morte suas bravatas.
Não sou o insensato que se aferra
ao som encantatório do seu nome.
Penso com esperança em certo homem
que não há de saber o que eu fui na terra.
Sob o cruel azul do firmamento
consolo encontro neste pensamento [277].
No dia de sua morte, minha avó entregou ao meu pai o relógio de bolso do senhor arcebispo, de ouro maciço, marca Ferrocarril de Antioquia, mas fabricado na Suíça, que conservo até hoje e que passará ao meu filho, como um testemunho e um estandarte (embora eu não saiba do quê), no dia em que eu morrer [60].
Héctor Abad FaciolinceA cronologia da infância não segue uma linha reta, mas é feita de sobressaltos. A memória é um espelho opaco e estilhaçado, ou melhor, é feita de conchas intemporais de lembranças espalhadas numa praia de esquecimento. Sei que aconteceram muitas coisas naqueles anos, mas tentar recordá-las é tão desesperador como tentar lembrar um sonho, um sonho que deixou em nós uma sensação, mas nenhuma imagem, uma história sem história, vazia, da qual resta apenas um vago estado de espírito. As imagens se perderam. Os anos, as palavras, as brincadeiras, as carícias se apagaram, e no entanto, de repente, rememorando o passado, alguma coisa volta a se iluminar na sombria região do esquecimento [153].
Héctor Abad FaciolinceMostra la citazione in tedesco
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