O processo de identificação é infantil, mas não é inteiramente ingênuo, porque não pode ocupar toda a minha mente. Enquanto parte de minha mente está criando gente de ficção, falando e agindo como meus heróis e em geral tentando se colocar na pele de outra pessoa, outra parte está cuidadosamente avaliando o romance como um todo - supervisionando a composição, imaginando como o leitor vai ler, interpretando a narrativa e os atores e tentando prever o efeito de minhas frases. Todos esses cálculos sutis, envolvendo o aspecto planejado do romance e o lado sentimental-reflexivo do romancista, revelam uma auto consciênciaque está em direto contraste com a ingenuidade da infância. Quanto mais o romancista consegue ser, ao mesmo tempo, ingênuo e sentimental, melhor ele escreve.
Orhan PamukStichwörter: literatura
Ao contemplar uma pintura de grandes proporções, sentimo-nos empolgados por estar na presença de tudo ao mesmo tempo e queremos entrar no quadro. Quando estamos no meio de um volumoso romance, sentimos o estonteante prazer de estar num mundo que não conseguimos ver em sua inteireza. Para ver tudo temos de constantemente transformar os momentos separados em quadros mentais. É esse processo de transformação que torna a leitura de um romance uma tarefa mais pessoal, mais colaborativa que a contemplação de um quadro.
Orhan PamukStichwörter: literatura
Quando aquela senhora que me lembrava minha tia disse que me conhecia, ela não estava dizendo que conhecia minha história de vida e minha família, que sabia onde eu morava, que escolas frequentei, os romances que escrevi e as dificuldades políticas que enfrentei. Nem que conhecia minha vida particular, meus hábitos pessoais ou minha natureza essencial e minha visão de mundo, que eu tentara expressar relacionando-as com minha cidade natal em meu livro Istambul. A velha senhora não estava confundindo a minha história com as histórias de minhas personagens fictícias. Ela parecia falar de algo mais profundo, mais íntimo, mais secreto, e senti que a entendia. O que permitiu que a tia perspicaz me conhecesse tão bem foram minhas próprias experiências sensoriais, que inconscientemente eu colocara em todos os meus livros, em todas as minhas personagens. Eu projetara minhas experiências em minhas personagens: como me sinto quando aspiro o cheiro da terra molhada de chuva, quando me embriago num restaurante barulhento, quando toco a dentadura de meu pai depois de sua morte, quando lamento estar apaixonado, quando eu consigo me safar quando conto uma mentirinha, quando aguardo na fila de uma repartição pública segurando um documento molhado de suor, quando observo as crianças jogando futebol na rua, quando corto o cabelo, quando vejo retratos de paxás e frutas pendurados nas bancas de Istambul, quando sou reprovado na prova de direção, quando fico triste depois que todo mundo deixou a praia no fim do verão, quando sou incapaz de me levantar e ir embora no final de uma longa visita a alguém apesar do adiantado da hora, quando desligo o falatório da TV na sala de espera do médico, quando encontro um velho amigo do serviço militar, quando há um súbito silêncio no meio de uma conversa interessante. Nunca me senti embaraçado quando meus leitores pensavam que as aventuras de meus heróis também haviam ocorrido comigo, porque eu sabia que isso não era verdade. Ademais, eu tinha o suporte de três séculos de teoria do romance e da ficção, que podia usar para me proteger dessas afirmações. E estava bem ciente de que a teoria do romance existia para defender e manter essa independência da imaginação em relação à realidade. No entanto, quando uma leitora inteligente me disse que sentira, nos detalhes do romance, a experiência da vida real que "os tornavam meus", eu me senti embaraçado como alguém que confessou coisas íntimas a respeito da própria alma, como alguém cujas confissões escritas foram lidas por outra pessoa.
Orhan PamukStichwörter: literatura
Nosso esforço para ler e visualizar um romance está relacionado com nosso desejo de ser especiais e distinguir-nos dos outros. E esse sentimento tem a ver com nosso desejo de identificar- nos com as personagens do romance, cuja vida é diferente da nossa. Lendo Ulysses, sentimo-nos bem, em primeiro lugar, porque tentamos identificar-nos com as personagens, cuja vida, cujos sonhos, ambiente, temores, planos e tradições são tão diferentes dos nossos. Mas depois esse sentimento é ampliado por nossa consciência de que estamos lendo um romance "difícil" - e, no fundo, sentimo-nos empenhados numa atividade de certa distinção. Quando lemos a obra de um escritor desafiador como Joyce, parte de nosso cérebro está ocupada se congratulando conosco por lermos um escritor como Joyce.
Quando tirou da bolsa seu volume de Proust, no dia da matrícula, Ayse pretendia não desperdiçar o tempo que passaria na fila; mas provavelmente também queria mostrar como era diferente, fazendo um gesto social que lhe permitiria encontrar outros estudantes iguais a ela. Poderíamos descrevê-Ia como uma leitora sentimental-reflexiva, consciente do significado de seu gesto. E é provável que Zeynep fosse o tipo de leitora ingênua que, comparada com Ayse, tinha menos consciência do ar de distinção que um romance pode conferir a seus leitores. Ao menos podemos imaginar, sem correr o risco de estar enganados, que assim Ayse a via. A ingenuidade e a sentimentalidade do leitor – como uma consciência do artifício do romance - estão relacionadas com um interesse pelo contexto e pela maneira como se lê um romance e com o lugar do escritor nesse contexto.
Stichwörter: literatura
عندما بكيتُ شعرتُ أنني امرأة أخرى انفصلت عني، وأرى حياتي من الخارج وأبكي متألمة على حياتي كما يبكي قارئ وهو يقلب صفحات كتاب ويرى رسوما مؤلمة.
Orhan PamukStichwörter: بكاء
هنالك جانب بريء في الإنسان يجعله يرى همومه همومَ آخرين، ويذرف الدموع من أجلها، وهذا ما جعلني أشعر بالطيب عندما احتضنني قرة. ولكن هذه المرة بقي الطيب بيننا عندما تعانقنا، فهو لا يصل إلى محيط أعدائنا من حولنا أبداً.
Orhan PamukThroughout history, religious leaders and other honorable men of conscience have always warned against this shaming confusion. They remind us that the poor have hearts, minds, humanity, and wisdom just like everyone else. When Hans Hansen sees a poor man he feels sorry for him. He would not necessarily assume that the man's a fool who's blown his chances or a drunk who's lost his will.
Orhan PamukPeople might feel sorry for a man who's fallen on hard times, but when an entire nation is poor, the rest of the world assumes that all its people must be brainless, lazy, dirty, clumsy fools. Instead of pity, the people provoke laughter. It's all a joke: their culture, their customs, their practices. In time the rest of the world may, some of them, begin to feel ashamed for having thought this way, and when they look around and see immigrants from that poor country mopping their floors and doing all the other lowest paying jobs, naturally they worry about what might happen if these workers one day rose up against them. So, to keep things sweet, they start taking an interest in the immigrants' culture and sometimes even pretend they think of them as equals.
Orhan PamukWhen a Westerner meets someone from a poor country, he feels deep contempt. He assumes that the poor man's head must be full of all the nonsense that plunged his country into poverty and despair.
Orhan PamukBut no one believes in that way what he reads in a novel...Oh yes they do. If only to see themselves as wise and superior and humanistic, they need to think of us as sweet and funny, and convince themselves that they sympathize with the way we are and even love us.
Orhan PamukStichwörter: snow
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